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Trabalho, Consumo e Alienação.

  • Foto do escritor: Iasmim Santos
    Iasmim Santos
  • 1 de fev. de 2019
  • 7 min de leitura

Atualizado: 11 de mar. de 2019

Você conhece as conceituações de trabalho, consumo e alienação? Se não as conhece, que tal entender como esses tópicos se inter-relacionam?


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Desde o princípio dos tempos do homem até os nossos dias, o conceito de trabalho foi sendo alterado e se fundindo com a história da humanidade e de suas civilizações, garantindo novos domínios políticos, valores e técnicas. Conforme Daniel R. Fusfeld, “Marx via o trabalho como uma contínua interação entre as pessoas, a natureza e o produto de trabalho. O trabalho era um elemento essencial no desenvolvimento da personalidade humana, logo a completa realização pessoal pressupunha um desenvolvimento rico e completo das relações dos indivíduos com os meios de produção e com o produto. No capitalismo, porém, o trabalhador é separado tanto do fruto do trabalho como das ferramentas de produção pertencentes ao capitalista. Impede-se que o indivíduo e sua personalidade se desenvolvam plenamente. O resultado é um alienação que se apodera das pessoas e desumaniza todas as relações pessoais e sociais.”

O termo trabalho vem do Latim tripalium, que significa castigo (o tripalium era, na verdade, uma espécie de estaca que era fincada no chão para servir de tronco para o castigo dos escravos da Idade Média). Por extensão significa aquilo que fatiga ou provoca dor.

Sabemos que o trabalho é uma atividade pela qual o homem transforma universo, seja para o bem ou para o mal. Mas será que trabalhar é uma condição essencial ao homem? Ou o homem só trabalha por necessidade e pela ameaça de poder extinguir se não trabalhar?

Para o filósofo Immanuel Kant o homem é um animal voltado ao trabalho. É necessária muita preparação para conseguir desfrutar do que é necessário a sua conservação. Mesmo que todas as condições existissem, para que não houvesse necessidade do homem trabalhar, este precisa de ocupações, ainda que elas sejam penosas. Porque a ociosidade pode ser ainda um maior tormento para os homens.


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Já para o filósofo e historiador Michel Foucault há outra perspectiva: em todos os momentos da história, a humanidade só trabalha perante a ameaça de morte, qualquer população que não encontre novos recursos está voltada a extinção e, inversamente à medida que os homens se multiplicam, empreendem trabalhos mais numerosos, mais difíceis e menos fecundos. O trabalho deve crescer deintensidade quanto maior for a ameaça de morte epor todos os meios teráde se tornar mais rentável, quanto de menos acesso as subsistências existirem.

É como uma atividade penosa a que o homem não pode fugir que a concepção de trabalho herdou das suas origens gregas e judaico-cristã.

Só o êxito do capitalismo burguês no século 19, coloca o trabalho como um valor supremo de uma sociedade voltada para o lucro e para a prosperidade e crescimento.

O trabalho constitui-se mais tarde como uma questão social. Com a produção industrial, o trabalho torna-se um fim em si mesmo e o trabalhador é um mero instrumento de produção, necessário ao funcionamento de uma fábrica, mas, do qual existe a outra parte, o capital, necessário para a fábrica se estabelecer e que não depende do trabalhador.

Nos nossos tempos com o novo sistema de valores, o trabalho é uma das dimensões em que o homem se realiza juntamente com a família, os tempos livres, os amigos, a cultura, etc.

O trabalho é um processo universal, está presente em todos os homens, em todas as

gerações, mas também tem uma dimensão pessoal, pois é através do sujeito que se efetua e esse sujeito, através do trabalho, tem uma forma de realização pessoal.

Na época de desenvolvimento industrial, existiram conflitos de classes: mundo do trabalho versus capitalismo.

Para o filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista Karl Marx, o trabalho é o prolongamento da atividade natural do homem, mas mais tarde conclui que a força de trabalho é uma mercadoria e que, para viver, o proletário vende o capital.

Segundo Marx, o trabalho denuncia uma exploração econômica e uma situação em que o homem não se vê no seu trabalho mecanizado e repetitivo, ou seja, não obtém a realização profissional que deveria obter, referindo-se a uma essência do homem que seria suposto o trabalho complementar.

O marxista Paul Lafarge exprimiu-se desta forma: “A nossa época é o século do trabalho. É, como efeito, o século do sofrimento, da miséria e da corrupção".

Essa afirmação se comprova com o pensamento do filósofo político Michael J. Sandel “uma sociedade em que as pessoas de diferentes origens e modos de vida não possam compartilhar as mesmas experiências – as mesmas escolas, opções de moradia, de lazer e outras – tem sua democracia enfraquecida de muitas formas. Suas leis, por exemplo, podem se tornar distantes da realidade vivida pelas comunidades marginalizadas. É ruim tanto para os desprivilegiados quanto para os privilegiados.”.


Consumo:


Junto com a lógica de produção em série, a "necessidade de compra" estava nascendo e junto vinham os anunciantes, as facilidades de crediário e campanhas de publicidade, naquele tempo ainda pelo rádio.

Há relatos históricos do papel da Publicidade desde a antiguidade. Os egípcios já utilizavam técnicas de comunicação para estimular as vendas por meio de propagandas em papiros e anúncios em cartazes. Mas elas eram utilizadas ainda de forma intuitiva, não havia uma metodologia definida para alcançar o público-alvo.
Hoje a técnica da Publicidade é tão elaborada que até mesmo os psicólogos auxiliam na produção de material de comunicação, de acordo com a tendência cultural e estilo de vida de quem se quer impactar.
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Conforme as pessoas iam trabalhando e recebendo seus salários, vinha uma necessidade de comprar, não só uma necessidade superficial, mais sim uma questão de sobrevivência, como alimentos, roupas e moradia.

No entanto, algumas pessoas já não compravam só por sobrevivência, e sim pelo prazer que isso lhes oferecia.

O consumo dá a possibilidade de fazer escolhas sobre determinados produtos, e optar entre comprá-los ou não. Nesse sentido, o consumo nunca é um em si, mas sempre um meio para outra coisa qualquer. Caso contrário, ele se transforma em consumismo.

Não há como fugir do consumo. Ele representa nossa sobrevivência e não é possível passar um único dia sem praticá-lo. Precisamos adquirir bens para suprir nossas necessidades de alimentação, vestuário, lazer, educação, abrigo.
Associado ao termo consumo sempre surge a ideia do consumismo e cuja diferenciação não é tão simples quanto parece. Muito mais do que pessoas que compram muito e adquirem bens que não precisam, o consumismo é um retrato do modelo atual de sociedade, do desperdício e dos valores que imperam. O consumismo refere-se a um modo de vida orientado por uma crescente busca pelo consumo de bens ou serviços e sua relação simbólica com prazer, sucesso, felicidade, que todos os seres humanos almejam, e frequentemente é observada nas mensagens comerciais dos meios de comunicação de massa.


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Alienação:


Alienação é pertencer a outro, é tornar alheio, transferir para o outro o que é seu. A pessoa alienada perde a compreensão do mundo em que vive. A alienação é a diminuição da capacidade dos indivíduos em pensar, em agir por si próprios.

Os indivíduos alienados não tem interesse em ouvir opiniões alheias, e apenas se preocupam com o que lhe interessa. Por isso são pessoas alienadas.

Alienação é o estado que uma pessoa que foi educada em condições sociais determinadas, e se submete aos valores e instituições dadas, perdendo assim a consciência de seus verdadeiros problemas, e se tornando uma pessoa alienada.


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A alienação é um processo de exteriorização de uma essência humana e do não reconhecimento desta atividade enquanto tal.
No fim do processo de trabalho, o produto feito se transforma em algo estranho, independente do ser que o produziu. Este estranhamento, esta “diferença de natureza” entre produtor e produto pode ser considerado a cereja do bolo para a concepção da alienação.

Trabalho e consumo alienados:

O trabalho alienado é:

1°. Quando você trabalha em algo que não te dar o menor prazer e continua nele porque tem que continuar. Aí você não se desenvolve, não amadurece e adoece geralmente.

Como afirma o Médico do Trabalho, Eduardo Jesuísno que "Algumas doenças só aparecem [após] 10 ou 15 anos de trabalho e acabam fazendo tamanho estrago que, muita vezes, a pessoa não tem condições de voltar para o trabalho, seja pelas limitações decorrentes da própria doença ou por ser o único local que o trabalhador consiga desenvolver atividades e isso [retornar para este único local] acabaria agravando a doença"
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Em entrevista ao iBahia, o médico listou as 10 principais doenças que podem ser desenvolvidas no trabalho, como : LER/DORT (Lesão por Esforços Repetitivos/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), Antracose, Bissinose, Surdez temporária ou definitiva, Dermatose ocupacional, Câncer de pele, Siderose, Catarata, Doenças por função, Doenças psicossociais.


2°. É quando o trabalhador perde mais do que ganha, já que produz para outro.


3°. Quando não está satisfeito com o salário, mas, mesmo assim, continua porque tem que pagar as contas.


4°. Quando trabalha mais horas do que o justo. É quando o trabalhador se transforma em mercadoria.


A produção em massa tem como objetivo o consumo em massa, bem como aborda a lógica de produção da indústria cultural na qual, consiste em introjetar na consciência do homem a necessidade de consumir tudo aquilo que a indústria lança para ser adquirido. E os meios de comunicação de massa são os mecanismos utilizado para a disseminação desta manobras.

Contudo, quanto maior a empresa for mais ela vai querer que, as pessoas realizem a compra dos seus produtos. Assim elas usam os meios de comunicação para alienar as pessoas para comprarem aquele determinado produto. E se alguém não tê-lo (o produto), ele vai estar fora de moda.

Basta verificarmos como produzimos bens para serem pouco usados e logo descartados, com enorme impacto ambiental, gasto de água, recursos, energia e trabalho humano, para sentirmos como nossos processos não são sustentáveis, por mais que tentem pintá-los de verde. Enquanto convivermos com o bombardeio publicitário incentivando o consumismo, com a obsolescência programada não apenas de produtos tecnológicos mas também de pessoas, suas roupas e demais objetos, e um modelo de produção linear, que produz grande volume de resíduos, estamos vivenciando o consumismo.

Muitas pessoas compram simplesmente pelo status. E assim vai: a cada novo produto as empresas fazem novas propagandas e os antigos vão sendo esquecidos e os novos vão tomando conta.. e assim

Vai se movimentando o círculo vicioso: Numa busca incessante pelo dinheiro as empresas investem cada vez mais em propagandas, em novos produtos. E as pessoas, nas buscas incessantes pelo status, vão comprando cada vez mais, às vezes compram até sem poder, se endividando com tantas faturas. Assim se tornando alienadas aquilo que é imposto pelas empresas.

É de Karl Marx a asserção de que todo novo estado da divisão do trabalho (DIT) determina as relações dos indivíduos entre si com referência a material, instrumento e produto do trabalho. Foi assim com a propriedade tribal, depois com a comunal e com a feudal, ou estamental.

Portanto, o modo de produção ou estágio industrial é marcado por um modo de cooperação ou estágio social, sendo ele mesmo a força produtiva.

Referências:

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