SERTANEJO NÃO É FORRÓ
- Iasmim Santos
- 29 de jun. de 2019
- 3 min de leitura

Junho nem bem deu as caras e já é possível sentir o aroma dessa época tão animada que é o São João. Momento que você já sente o cheiro da brisa junina chegar. Com as notas musicais ao som do estalar das madeiras queimando junto à fogueira, que enfeita as portas da vizinhança.
O São João é uma época que transmite muita energia, não só através dos fogos ou por meio do calor das fogueiras, mas porque é um período que traduz uma frequência de meta cumprida, de finalização e recomeços. Traduz o meio do ano, um clima de oportunidade e de chance para sentir e viver mais.
O São João representa o mês de junho, representa comemorar, estar perto de quem ama e, representa também o 14 de junho.
Você deve tá se perguntando o que seria o 14 de junho, não é mesmo?
Bem, é o dia do meu aniversário. Então, não tem como eu não gostar do São João já que ele traz uma vibração a mais para o meu mês. E eu, como sou a cronista aqui, não poderia me esquecer de falar sobre ele.
Eu olho para esse momento do ano e vejo tanta nostalgia! Porque a partir dele eu consigo compreender a passagem do tempo, ou melhor, da minha evolução. Com isso eu consigo analisar o que eu fiz no São João passado, retrasado e tanto outros. É analisar o meu crescimento e o que estou ou penso em fazer daqui para frente.
Poucos sabem, mas, essa festa tão popular no nordeste teve origem nos países europeus com vertente católica o que fez com que a homenagem a um santo fosse traduzida nas festas “joaninas”, como eram conhecidas. Mesmo que, muitos não liguem tanto para a essência da tal homenagem, o São João ganhou espaço no Brasil, desde que foi trazido para cá pelos portugueses. E hoje se mescla com a cultura e tradições de diversas regiões.
Falar de São João é citar as comidas deliciosamente preparadas. É citar o cheirinho do mingau quentinho, o gosto da canela e do cravo, é se deliciar com as canjicas no friozinho ou comer amendoim acompanhado da fogueira. É sentir o gostinho da manteiga no milho cozido e presenciar a chuva desse período chegar.
Mas, falar de São João também é falar de dança, é falar de festa. E para compor uma festa nada melhor que uma boa música: desde o som de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, a “eu só quero um xodó”, ou “isso aqui tá bom demais” de Dominguinhos. Não sei se você já percebeu, mas nessa época, o ritmo é o forró. Nesse ninguém pode inventar de trocar por outro! São João, pelo menos no nordeste, só é São João se tiver o bom e velho forró.
Xote, baião, arrastapé, xaxado, coco, mazurca, rojão. O forró ao som do triângulo, ou sanfona é um ritmo danado de bom, que acolhe, agita e que traduz as entrelinhas do ser nordestino, do sentir com sensibilidade e do olhar para sua casa de um jeito que só o forrozeiro sabe.
Mas quero trazer um dilema a respeito da integração de novos ritmos e a ocultação de velhos arranjos numa festa que o essencial é manter a tradição.
“Quem não conhece Severina Xique Xique que botou uma boutique para a vida melhorar. Pedro Caroço, filho de Zé Fagamela passa o dia na esquina fazendo aceno pra ela. Ele tá de olho é na boutique dela!...”.
Muitas músicas de forró compõem a raiz do São João nordestino, e há certo estranhamento quando percebemos que esse ritmo, está sendo deixado de lado para dar lugar a outros hits de pagode, eletrônica, funk e até mesmo o sertanejo que não é um sinônimo de forró, como diz a cantora Elba Ramalho “o São João não é festa de peão”, sertanejo não é forró!
O bom e velho São João se quiser manter a tradição precisa manter na sua programação, como o ritmo dominante, o forró.
Hoje esse ritmo cedeu lugar aos produtos da indústria cultural. Com isso, vê-se, a possibilidade da junção e participação de todos em uma festa só. Mas é necessário ter consciência que São João só é São João se tocar forró!
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