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História das coisas

  • Foto do escritor: Iasmim Santos
    Iasmim Santos
  • 19 de mai. de 2019
  • 6 min de leitura

Resenha crítica do Curta-metragem/Animação: História das coisas de Annie Leonard, 2007.

A priori, o documentário “História das coisas” proporciona uma leitura crítica do universo no qual vivemos. Ele apresenta os acontecimentos e atividades na transição da modernidade para a pós-modernidade.


A realidade em que vivenciamos é pautada por mediações e tipificações que, foram e estão sendo institucionalizadas constantemente. Essas mediações acontecem na maioria das vezes de forma simbólica e, subliminar. Ou seja, vivenciamos e seguimos discursos e modelos que são nos dado e, na maioria das vezes, os usufruímos sem criticidade e reflexão.

A partir disso, muitas são as consequências devido à falta de consciência pós-moderna. Podemos citar os desiquilíbrios sociais, convívios alterados, e novos métodos de aprendizado para persuadir a sociedade.


Vemos que, as desigualdades se intensificam, a superficialidade encontra espaço nas fragmentações das identidades, e a poluição e desmatamento desenfreado contribui para a morte daquele que nos dá a casa principal que, é o nosso planeta Terra. Dentre outras consequências vividas pela falta de percepções e direcionamento crítico.

O documentário nos passa em inicial, questões que são tidas como comuns para a sociedade e por isso não recebem a atenção devida, já que tudo é feito de forma tão mecânica. Perguntas tais como “de onde vem todas as coisas que compramos, e para onde elas vão?” são ideias expostas como gatilhos para as discussões apresentadas a seguir.


O que se percebe é que na economia de materiais, as coisas se deslocam da extração para a produção, para a o consumo e para o tratamento de lixo. E é importante pensar e falar sobre isso. No sistema do capital e consumo, parece que está tudo bem, e que vivemos em um planeta infinito e usa-se então, um sistema linear, no entanto, o que poucos refletem é que o nosso planeta é finito e precisa-se de medidas para sanar questões que poderão e ocasionam um processo acelerado de falecimento e declínio do planeta.


Pessoas, etnias e culturas estão envolvidas em meio aos processos de escolhas e produções de bens, e esse processo tem um forte impacto na vida de cada uma delas. E esses processos interagem entre si, mesmo algumas pessoas tendo mais poder que outras, tais como as corporações que tem um poder maior que o governo, os influenciando a medida das suas satisfações necessidades.


No documentário vemos um país central quando falamos em exploração exacerbada dos recursos naturais que é os Estados Unidos da América, no entanto essa é uma realidade repetida por inúmeros outros países.

Percebemos também que quando o país explorador esgota seus recursos começam a visar os outros países como forma de explorar até esgotá-lo e, partir para o próximo, numa exorbitação sem fim. Como podemos citar 75% das zonas de pesca do planeta que estão sendo exploradas além da sua capacidade; além de desaparecerem 80% das florestas originais do planeta; e também, na Amazônia não é diferente, se perde 2.000 árvores por minuto.


E os países que mais sofrem esses esgotamentos são os tidos como de terceiro mundo ou subdesenvolvidos que fixam sua economia cada dia mais nas mãos de poucos e vivem em condições desumanas.


E de acordo com a visão das corporações e do governo, os moradores desses países tidos como exploráveis, não são considerados possuidores dos seus países, já que eles não são donos dos meios de produção e nem tão pouco, compram muitas coisas.


Com isso, vemos que o consumo é movimentado pelos que podem consumir mais, e quando falamos em consumo temos que saber a diferença entre a qualidade dele, já que a maioria é tóxica e prejudicial aos nossos corpos e ao psicológico também, pois inúmeros nocivos químicos à nossa saúde são injetados em todo o processo de produção, provocando consequências ao longo do tempo. A exemplo do leite materno - alimento que deveria suprir todas as necessidades de um recém-nascido e o preencher com vitaminas benéficas-, agora percebe-se um elevado nível de contaminação se comparado a outros elementos (travesseiros, computadores, e alimentos que se acumulam ao longo da nossa cadeias alimentar).

Crianças em sua fase de crescimento são bombardeadas logo no início da vida com tóxicos através da amamentação, um ato que antes era 100% seguro, e os governadores deveriam proteger isso, no entanto, o fluxo desigual faz com que muitas mulheres e pessoas em condições sub-humanas e sem tantas alternativas sejam expostas a químicos e produtos tóxicos em fábricas, e locais inapropriados, inclusive essas mulheres em fase gestacional.

Cabe ressaltar também, que quando os recursos naturais são transformados em produtos com suas toxinas, os bens que compramos muitas vezes abaixo do preço têm seus preços exteriorizados para que possa obter seu fim mais rapidamente, e isso significa também um fundo muito obscuro de exploração dos trabalhadores e trabalho infantil (de lugares como África do Sul, Iraque, China, México) já que não são pagos como deveriam e os preços de produção nunca são justos.


Crianças abandonam seus estudos para trabalharem em Minas e produzirem o metal que usamos em aparelhos descartáveis, essas pessoas e famílias contribuíram para que os consumidores paguem por um valor muito inferior ao verdadeiro, no entanto, essas contribuições não são contabilizadas. Sendo ressaltada no documentário a importância de exteriorizar o verdadeiro custo de produção.


Outro destaque é a seta dourada protegida pelas corporações e governos, ou seja, nosso valor é avaliado na sociedade de acordo com o que compramos, e possuímos.

E isso, leva a um consumo exagerado, ou seja, além do que necessitamos, gera-se assim, um fluxo muito maior de lixo, pode ser citado o exemplo do consumidor americano que produz 2 quilos de lixos por dia (o dobro ao que fazíamos a trinta anos), e o descarte desse lixo é sempre feito de maneira incorreta, produzindo mais substancias tóxicas e prejudicais ao meio ambiente como a incineração, além da exportação dos resíduos para países de subdesenvolvidos.


Com isso, é destacado que só reciclar não é mais a solução para esse problema (muitos produtos não tem como serem separados, por exemplo, devido terem camadas de metais e plásticos imiscuídas), pois o sistema está em crise, e enfrentam limites a todo o momento.

Vê-se que, o objetivo da economia estadunidense se preocupa mais em produzir bens de consumo do que educação, saúde, transporte seguro, sustentabilidade e justiça, elementos fundamentais em uma sociedade.


E através da obsolescência programada os consumidores sentem-se na vontade de trocar os produtos por um novo, já que esses produtos têm o tempo de uso reduzido propositalmente. E também, percebemos a necessidade do consumo, através da obsolescência perceptiva que nos convence a jogar fora coisas que ainda estão perfeitamente úteis, - sermos expostos em um meio que todos já estão atualizados, simbolicamente, esse tipo de obsolescência nos obriga a se atualizar também.

E para que tudo isso se efetive e promova um fluxo contínuo de consumo, a mídia é a principal mediadora, através da divulgação de mais de 3 mil anúncios por dia que persuadem os consumidores para a compra de novos dispositivos. Além de auxiliá-los no seguimento de padrões e modelos de beleza, vestimentas entre outros produtos que são expostos e exibidos para serem comprados ou acompanhados.

Contudo o que as pessoas costumam perceber é o produto final que é consumido por elas, não veem que além das coisas existe um processo muito maior que interfere todos nós diretamente. Como a depressão e outros problemas psicológicos, como ansiedade, distúrbios e dificuldades de se relacionar que, são intensificados com o estímulo das televisões, hoje mais ainda com a internet, e seus influenciadores digitais que, mandam nos seus seguidores e ditam a moda todo o tempo.

Percebe-se que em todos os setores desse sistema em crise há ponto de intervenção que pensam em salvar florestas, em produzir de forma limpa e renovável, pessoas trabalhando em proteger os direitos dos trabalhadores, outras trabalhando no consumo consciente e comércio justo, interventores que buscam o bloqueio de aterros e incineradores. Além de pessoas lutando para recuperar o nosso governo.

Percebe-se que essa situação só mudará quando começarmos a pensar no reaproveitamento e eliminar a cultura do “usar e jogar fora”, é necessário enxergar o panorama geral e transformar o sistema linear em algo novo.


A pós-doutora em neurociências e mestre em psicologia Claudia Feitosa Santana no diz que “nosso cérebro detesta incertezas que englobam riscos, ambiguidades e dúvidas, mas a negação da incerteza nesse sentido amplo pode ser sinônimo de irresponsabilidade [...] Abandonar a negação das incertezas, e riscos são as grandes causas para as consequências que o planeta sofre atualmente. A negação não só não é útil, como pode provocar grandes desastres.”

É necessário pensar em “sustentabilidade, equidade, química verde, zero resíduos, produção em círculos fechados, energia renovável, e economias locais vivas”. Mesmo que muitos pensem que isso nunca poderá ou, não pode acontecer, esta é a única alternativa para que o planeta continue a nos fornecer seus recursos e para que, possamos mudar a maneira de nos relacionarmos uns com os outros.

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